sábado, 11 de junho de 2022

Iguaria japonesa com sabor brasileiro.

O "sobá de Okinawa" conquista o paladar dos brasileiros na capital do Mato Grosso do Sul.


Campo Grande - Em meados da década de 60, um casal de japoneses, oriundo de Okinawa, decidiu abrir seu próprio negócio no interior do Brasil, oferecendo uma iguaria muito popular de sua terra natal: o macarrão de trigo sarraceno "sobá". Após quase 60 anos da empreitada da família Katsuren na culinária japonesa, o "sobá de Okinawa" é tão popular na cidade de Campo Grande que o delicioso prato oriental tornou-se parte da cultura local.

www.nikkeyon.blogspot.com
O "sobá de Okinawa" conquista o paladar dos brasileiros na capital do Mato Grosso do Sul.
Tadashi Katsuren prepara um prato de "sobá de Okinawa" em seu restaurante no mercado central de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Brasil. Foto: Rihito Karube.

Localizada a 900 quilômetros a noroeste de São Paulo e a 19.000 quilômetros das ilhas de Okinawa, a cidade de Campo Grande (capital do estado do Mato Grosso do Sul) tem uma população estimada de 900.000 habitantes. Desse total, cerca de 10.000 pessoas da cidade são de origem japonesa, muitas delas descendentes de imigrantes de Okinawa.

No mercado central da cidade de Campo Grande, quase todos os 30 restaurantes do recinto servem o "macarrão sobá de Okinawa". Nos cardápios, os restaurantes servem para os clientes o "sobá com caldo de carne de porco" e o "sobá com caldo de carne bovina".

Em Okinawa, ossos de porco são usados para cozinhar a sopa do "sobá" e costelas de porco são colocadas em cima do macarrão quando servidos na tigela. Entretanto, devido aos paladares dos campo-grandenses, muitos restaurantes da cidade criaram o sobá com caldo de ossos de boi, cobrindo o macarrão com pedaços de carne bovina. Na capital do Mato Grosso do Sul, o consumo de carne bovina supera o de porco e, por isso, essa adaptação foi feita no prato japonês.

"A população de Campo Grande adora o macarrão "sobá", mesmo aqueles brasileiros que não têm nenhuma raiz com a cultura japonesa", disse Tadashi Katsuren (29 anos), neto de japoneses e dono de um dos restaurantes de "sobá de Okinawa" no mercado central.

Os avós de Tadashi Katsuren chegaram à cidade de Campo Grande em 1954. Após Okinawa ser devastada na Segunda Guerra Mundial e ter iniciado o governo norte-americano nas ilhas japonesas (com a derrota do Japão na guerra), a família Katsuren decidiu recomeçar a vida em outro país, mudando-se para o Mato Grosso do Sul, no Brasil. Muitos japoneses de Okinawa começaram a se mudar para Campo Grande no começo dos anos 1900.

O avô de Tadashi, Hiroshi Katsuren, recomeçou a vida no Brasil trabalhando em uma lavoura de café. Com vontade de abrir seu próprio negócio, Hiroshi refletiu na possibilidade de abrir um restaurante com comidas típicas de Okinawa, satisfazendo a vontade da comunidade japonesa de Campo Grande por pratos orientais.

Hiroshi e sua esposa, Yasuko Katsuren (agora com 92 anos), abriram a sua primeira barraca de "sobá de Okinawa" no mercado central de Campo Grande em 1965. A barraca do casal tornou-se tão popular na época que atraiu a vontade de comer "sobá" de vários imigrantes japoneses da região. Antes que eles percebessem, o "sobá de Okinawa" começou a ser oferecido em toda a cidade.

Atualmente, o número de lojas de "sobá de Okinawa" é estimado em mais de 100 estabelecimentos comerciais na capital do Mato Grosso do Sul. Em 2006, a especialidade de Okinawa foi registrada como bem cultural imaterial do município de Campo Grande. Em 2018, o "sobá de Okinawa" foi selecionado pelos campo-grandenses como o prato culinário preferido da cidade.

O "sobá de Okinawa" conquista o paladar dos brasileiros na capital do Mato Grosso do Sul.
Yasuko Katsuren, 92 anos, olha uma foto antiga com o seu neto Tadashi, em sua casa em Campo Grande, Brasil. Foto: Rihito Karube.

Devido a sua história e ser a precursora do "sobá campo-grandense", Yasuko Katsuren já foi até entrevistada pela imprensa da cidade. Ela explicou, para os repórteres locais, detalhes sobre o recomeço de sua vida no Brasil e da sua vida em Okinawa.

Yasuko foi criada na cidade de Nago, na parte norte da ilha de Okinawa. Quando sua família vivia no Japão, seu irmão mais velho e um primo foram mortos durante a Segunda Guerra Mundial.

Vivendo há quase 70 anos no Brasil, Yasuko disse que ainda tem um forte desejo de explicar a trágica história de Okinawa para as pessoas. Recentemente, a província acabou de celebrar o 50ª aniversário de sua reversão à soberania japonesa, com o fim do domínio norte-americano em 1972.

"As dificuldades vividas pelo povo de Okinawa, combinadas com as histórias assustadoras daqueles que deixaram as ilhas para viver em outros lugares ao redor do mundo, devem ser devidamente passadas para a posteridade", explicou Yasuko.


Fonte: The Asahi Shimbun.


Nikkey ON! Blog de notícias sobre o Japão e o Mundo.