Tóquio - O governo japonês está decidido em liberar a água radioativa tratada da usina nuclear de Fukushima no mar. Há uma grande oposição dos pescadores do Japão, conforme fontes familiarizadas com o assunto divulgado na última sexta-feira, 09 de abril.
Funcionários da TEPCO checam os tanques de água radioativa da usina nuclear Fukushima Dai-ichi. Foto: Japan Today.
Será realizado uma reunião de ministros nesta terça-feira, 13 de abril, para a decisão formal do assunto. Um grande embate da situação durante mais de sete anos de discussões sobre como descartar a água usada para resfriar o combustível nuclear derretido na planta Fukushima Dai-ichi.
A água a ser descartada no mar contém trítio radioativo, um subproduto criado pelos reatores nucleares. De acordo com o governo, existe pouco risco para a saúde humana. Mesmo que alguém beba a água contaminada, a concentração de trítio é baixa e a substância radioativa não se acumula no corpo, sendo excretada pelo organismo humano. Também não apresenta risco de exposição externa com o corpo humano, mesmo que a água entra em contato com a pele.
Ainda assim, as preocupações continuam entre a indústria pesqueira do Japão e os consumidores. Países vizinhos como Coréia do Sul e China também estão preocupados com o futuro da água radioativa no mar.
O governo japonês disse que não pode continuar adiando a decisão do descarte do material. A capacidade de armazenamento dos tanques de água no complexo da usina de Fukushima deve se esgotar já no outono do próximo ano. Afirma-se que o descarte no mar é necessário para garantir espaço nas instalações, sendo que mais água radioativa continuará sendo extraída dos reatores atômicos danificados. O processo de demolição do complexo das usinas atômicas de Fukushima durará por décadas.
A operadora da planta, a Tokyo Electric Power Company Holdings Inc. (TEPCO), disse que o descarte da água tratada no mar ainda levará cerca de dois anos para começar após a definição da decisão.
Inicialmente, o governo japonês esperava tomar uma decisão sobre o descarte da água tratada em outubro do ano passado. Mas a decisão foi adiada porque é necessário mais tempo para discussões em meio a onda de preocupações sobre os possíveis danos à reputação dos produtos marinhos comercializados pelo país.
Na última quarta-feira, o primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, disse que seu governo decidirá "em alguns dias" se irá liberar a água tratada após se reunir com Hiroshi Kishi, chefe da federação nacional de cooperativas de pesca do Japão. Kishi tem demonstrado forte oposição de sua organização ao plano do descarte da água.
Em relatos da mídia de que o Japão está prestes a descartar a água da usina de Fukushima no mar, a China e a Coréia do Sul pediram ao governo japonês que considere isso com cuidado e transparência.
A China pediu com instância que o Japão tome uma decisão cautelosa sobre o assunto dizendo: "O vazamento do material radioativo causado pelo acidente nuclear de Fukushima teve um impacto profundo no meio ambiente marinho, segurança alimentar e saúde humana."
"O governo japonês deve divulgar informações adequadas e tomar uma decisão cuidadosa com base em consultas completas com os países vizinhos", disse aos reportares de Pequim o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian.
O Ministério das Relações Exteriores da Coréia do Sul disse em um comunicado: "Nosso governo sempre enfatizou que o governo japonês precisa divulgar informações transparentes sobre como lidar com a água contaminada". O ministério acrescentou que deseja continuar a ter discussões estreitas sobre o assunto com o Japão e outros países interessados, bem como com organizações internacionais como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
China e Coréia do Sul estão entre os 15 países e regiões que continuam a restringir as importações de produtos agrícolas e pesqueiros do Japão mais de 10 anos após a crise nuclear de Fukushima, causada por um terremoto e um tsunami devastador em 2011.
Em fevereiro de 2020, o governo japonês propôs várias opções para o descarte do material, incluindo liberar a água no oceano ou evaporá-la .
No mês de março do ano passado, a TEPCO traçou um plano para diluir a água abaixo do limite legal de concentração de materiais radioativos antes de liberá-la no mar.
A usina nuclear Fukushima Dai-ichi continua a gerar grandes quantidades de água contaminada por radiação. A água é usada para resfriar o combustível derretido dentro do reator danificado pelo tsunami em 2011.
A água radioativa do reator é tratada usando um sistema avançado de processamento de líquido (ALPS). O sistema remove a maioria dos contaminantes radioativos e a água tratada é armazenada em tanques nas instalações do complexo nuclear de Fukushima. O processo, no entanto, não consegue remover o trítio, um isótopo radioativo de hidrogênio.
A AIEA apoiou o plano do governo japonês de descartar a água tratada, dizendo que seu lançamento no mar atende aos padrões globais de práticas da indústria nuclear.
Durante a visita no complexo de Fukushima em fevereiro do ano passado, o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, disse que o descarte da água tratada é uma forma comum de liberar a água em usinas nucleares, mesmo quando não estão em situações de emergência.
O ministro japonês da indústria, Hiroshi Kajiyama, disse a Grossi, numa videoconferência no mês passado, que o Japão deseja que a AIEA conduza uma revisão científica e objetiva do método de descarte da água, transmitindo abertamente sua visão à comunidade internacional.
Kajiyama disse na época que a mensagem de apoio da AIEA sobre o descarte da água tratada no mar é vital para dissipar as preocupações. Os cuidados com a reputação sobre a segurança da água existem tanto no mercado interno japonês quanto nos países vizinhos.
Comentário da Nikkey ON!: situação preocupante. O que essa água radioativa tratada pode causar num futuro próximo se descartada no oceano em grandes quantidades todos os anos? Tomar uma decisão correta agora antes de cometer erros que possam prejudicar o hoje e o amanhã do planeta.
Fonte: Kyodo News.