Na manhã desta segunda-feira, 9 de janeiro, os principais canais de notícias do Japão mostraram a repercussão internacional da invasão, dos manifestantes pró-Bolsonaro, nos principais prédios do governo federal brasileiro em Brasília. Leia abaixo a reportagem, sobre o assunto, que saiu no site do jornal Asahi.
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Manifestantes pró-Bolsonaro protestando sobre o Congresso Nacional, depois de invadir o local neste domingo, 8 de janeiro, em Brasília. Foto: AP. |
Rio de Janeiro - Nesse domingo, 8 de janeiro, os apoiadores de Jair Bolsonaro, que se recusam a aceitar a derrota eleitoral do ex-presidente brasileiro, promoveram uma invasão, sem precedentes, nos principais prédios do governo de Brasília: o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio Presidencial. A confusão generalizada aconteceu uma semana depois da posse do atual presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
Milhares de manifestantes contornaram as barricadas de segurança, subiram no Congresso Nacional, quebraram janelas e vandalizaram as salas dos três prédios do governo. Acredita-se que os manifestantes aproveitaram o recesso, de fim de semana do funcionalismo público, para invadir os locais citados acima.
Durante a invasão, os manifestantes pediram a intervenção militar para restaurar o poder do ex-presidente Bolsonaro, ou tirar o atual presidente Lula do poder.
Horas de protestos se passaram, até que o controle dos prédios, na vasta Praça dos Três Poderes de Brasília, fosse restabelecido pelos agentes policiais. Centenas de manifestantes foram presos.
Em entrevista coletiva, o presidente Lula acusou Bolsonaro de encorajar a revolta dos "fanáticos fascistas". No momento da coletiva, Lula leu um decreto recém-assinado para que o governo federal assuma o controle da segurança do Distrito Federal.
"Não há precedentes para o que os manifestantes fizeram. Essas pessoas precisam ser punidas", disse Lula.
Bolsonaro, que viajou para Flórida (Estados Unidos) antes da posse presidencial de Lula, repudiou a acusação do atual presidente brasileiro no final do domingo. O ex-presidente escreveu em sua conta no Twitter: "Protestos pacíficos fazem parte da democracia, mas vandalismo e invasão de prédios públicos são exceções à regra".
A polícia de Brasília disparou gás lacrimogêneo nos manifestantes para restaurar a ordem nos locais depredados. Nas imagens mostradas pelos canais de TV do Brasil, vários manifestantes caminhavam por uma rampa do Palácio Presidencial com as mãos presas nas costas.
No início da noite de domingo, o controle das autoridades federais foi restaurado sobre os prédios invadidos. O Ministro da Justiça do Brasil, Flávio Dino, disse em entrevista coletiva que cerca de 200 pessoas haviam sido presas. No lado de fora dos prédios do governo, o ministro disse que os policiais continuavam disparando mais gás lacrimogêneo no público, para afastar os manifestantes remanescentes.
Lula afirmou que houve "incompetência ou má-fé" por parte da polícia. Os agentes policiais também foram complacentes, quando os apoiadores de Bolsonaro se revoltaram em Brasília, há uma semana atrás. O presidente prometeu que esses oficiais serão punidos e expulsos de suas corporações.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse aos repórteres que os distúrbios no Brasil foram "ultrajantes". Seu conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, deu um passo adiante no Twitter e escreveu: "Os EUA condenam qualquer esforço para corroer a democracia no Brasil".
Mais tarde, o presidente americano Biden escreveu em sua conta no Twitter, dizendo que espera continuar trabalhando com Lula. Biden chamou os distúrbios em Brasília de "ataque à democracia e à transferência pacífica de poder no Brasil".
O secretário de Relações Exteriores Britânico, James Cleverly, escreveu o seguinte no Twitter: "As tentativas violentas de minar a democracia no Brasil são injustificáveis. O presidente Lula e o governo do Brasil têm o total apoio do Reino Unido".
Vídeos brasileiros, nas redes sociais, mostraram uma presença limitada da polícia militar de Brasília, durante a invasão dos manifestantes. A secretaria de segurança da capital não respondeu a um pedido da Associated Press, para comentar a relativa ausência da polícia nos locais das manifestações.
Segundo Maurício Santoro, Professor de Ciências Políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, as autoridades brasileiras tiveram dois anos para aprender as lições da invasão do Capitólio (em Washington, Estados Unidos), preparando-se para algo semelhante no Brasil.
"As forças de segurança em Brasília falharam de uma maneira sistemática: deixaram de prever e responder as ações extremistas na capital. E as novas autoridades federais do governo Lula, como os ministros da Justiça e da Defesa, não foram capazes de agir de forma decisiva", explicou Santoro.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, confirmou no Twitter que demitiu o chefe da segurança pública da capital, Anderson Torres. A mídia brasileira informou que Torres está atualmente nos Estados Unidos.
A Procuradoria-Geral de Lula pediu ao Supremo Tribunal Federal que decretasse a prisão de Torres.
"Dois anos desde 6 de janeiro, o legado de Trump continua a envenenar nosso hemisfério. Proteger a democracia e responsabilizar atores malignos é essencial", twittou o senador americano Bob Menendez, que preside o comitê de relações exteriores do Senado dos EUA. Menendez culpou Bolsonaro por incitar os atos de vandalismo ocorridos em Brasília.
Fontes: The Asahi Shimbun / Associated Press.