Chefe do Banco do Japão não vê impacto direto entre as operações de mercado e a cotação do iene.
Tóquio - Desde segunda-feira, 28 de março, o Banco do Japão (BOJ - equivalente ao Banco Central do Brasil) tem realizado compras de quantidades ilimitadas de títulos do governo, com uma taxa de juros fixa. A intenção é estabilizar as taxas de juros dos títulos de longo prazo. A ação do BOJ, no primeiro dia de intervenção, fez com que o iene, a moeda do Japão, desvaloriza-se frente ao dólar.
www.nikkeyon.blogspot.com
![]() |
Na quarta-feira, 30 de março, o chefe do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, se reune com a imprensa, depois de conversar com o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida. Foto: Kyodo. |
O BOJ tem comprado os títulos (JGB) de longo prazo (10 anos) com uma taxa fixa de 0,25%. Até terça-feira, o BOJ efetuou a compra de aproximadamente 528 bilhões de ienes (US$ 4,3 bilhões) em títulos do governo japonês. A intervenção do banco, na compra dos títulos, vai continuar até quinta-feira, 31 de março.
É a primeira vez que o Banco do Japão efetua uma intervenção como essa, em 4 dias consecutivos.
"As operações do Banco do Japão na compra de quantidades ilimitadas de títulos do governo japonês servem para conter o aumento das taxa de juros de longo prazo dos mesmos títulos. Isso não tem um impacto "grande e direto" na desvalorização do iene", disse o chefe do BOJ, Haruhiko Kuroda, nesta quarta-feira.
As ações do BOJ enfraqueceram fortemente o iene na segunda-feira. A moeda japonesa chegou a ser cotado a 125 ienes por dólar. Essa foi a maior desvalorização, frente ao dólar, em mais de 6 anos e meio.
A recente desvalorização do iene ocorre num período em que a demanda dos importadores japoneses continua forte (alimentos importados, remédios, insumos, etc.) mesmo com a alta dos preços de energia (combustíveis, gás natural, carvão), inflacionando mais os preços dos produtos no varejo. Por outro lado, o iene desvalorizado tem aumentado os lucros dos exportadores japoneses (carros, maquinários, etc). O valor ideal da cotação do iene, em relação ao dólar, tem sido uma dor de cabeça para o Japão manter o seu controle.
"Eu disse ao primeiro-ministro que é desejável que as taxas de câmbio se movam de maneira estável e reflitam os fundamentos econômicos. Também foi discutido o impacto da invasão russa na Ucrânia na economia global", informou Kuroda após se encontrar com o Fumio Kishida.
Depois da reunião entre Kuroda e Kishida ser noticiada pela imprensa japonesa, o dólar ficou cotado abaixo dos 121,50 ienes.
O BOJ tem lutado para impedir qualquer aumento nos juros dos títulos do governo. Vendo que a taxa de juros dos títulos de 10 anos estava aumentando gradualmente, o BOJ começou a intervir no mercado financeiro. A compra ilimitada de títulos a uma taxa fixa de 0,25% foi estabelecido pelo BOJ como parte do seu programa de controle da curva de rendimento projetado. Assim, controlando as taxas de juros dos títulos, o BOJ consegue manter baixo os valores dos empréstimos destinados para famílias e empresas.
Kuroda afirma que um iene desvalorizado é positivo para a economia. Já a inflação de commodities (matérias-primas e produtos não industrializados importados pelo Japão) não levará o BOJ a mudar a sua política monetária.
Em outros lugares, a medida do Japão é oposta do FED (Banco Central Americano) e do Banco Central da Europa. Tanto os Estados Unidos quanto os países da Europa, têm tentado controlar a alta da inflação, agravada pela pandemia do coronavírus e pela guerra Rússia-Ucrânia.
Fontes: NHK News / The Mainichi / Reuters.