Japão enfrenta crescente desigualdade social após o período Abenomics.
Tóquio - Após oito anos de estímulos econômicos no Japão, uma pequena parte da sociedade japonesa conseguiu concentrar riqueza durante o período em que o ex-primeiro ministro Shinzo Abe esteve no poder. Entretanto, no mesmo período, muitas pessoas acabaram empobrecendo ainda mais no país.
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O primeiro-ministro Fumio Kishida: planos para reduzir a disparidade de riqueza no Japão. Foto: AFP.
A discrepância da renda, entre ricos e pobres no Japão, tornou-se um assunto prioritário para o novo primeiro-ministro Fumio Kishida. Prometendo combater a disparidade da renda da população, agravada pela pandemia do coronavírus, Kishida deu poucas pistas de como fará para que suas propostas de governo funcionem.
"É como se todos nós estivéssemos mais pobres agora", disse Masanori Aoki, 62 anos. Aoki é dono de uma pequena cafeteria em um bairro de classe trabalhadora no nordeste de Tóquio.
"No tempo da Abenomics, o ministro das finanças daquela época falou sobre muita riqueza na economia do país. Mas não existia tal coisa, existia? Quase nada", indaga Aoki. No início da pandemia da COVID-19, Aoki foi forçado a fechar temporariamente a sua loja. Para ganhar dinheiro, ele arranjou um emprego temporário de meio-período como motorista de ônibus de um jardim de infância.
Kimie Kobayashi, 55 anos, funcionária de uma creche em Tóquio, diz que o seu salário não aumenta há quatro anos. Ela afirma que muitos do setor já estão conformados com o fato de que os salários dificilmente irão aumentar algum dia.
"Não posso dizer que a minha renda esteja melhorando. O governo arrecada impostos, mas esse dinheiro não é usado para ajudar as pessoas que realmente precisam", disse Kobayashi.
Abenomics (2012-2020) foi um conjunto de políticas econômicas com a intenção de sacudir a economia japonesa da estagnação. Um enorme apoio monetário, fiscal e de estratégias de crescimento foram implementados no Japão, mas as medidas acabaram impulsionando mais o mercado de ações e os lucros corporativos. Assim, o plano do ex-primeiro ministro Shinzo Abe terminou falhando na criação de riquezas para as famílias por meio de salários mais altos.
A taxa de pobreza do Japão é a segunda maior entre as nações do G7 e a nona maior entre os países do OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), com base nos dados disponíveis até 2020.
Os salários nominais no Japão aumentaram apenas 1,2% entre 2012 e 2020, de acordo com dados do governo. A riqueza média das famílias japonesas caiu 3,5% de 2014 a 2019. No entanto, nesse mesmo período, a riqueza dos 10% mais ricos do Japão demonstrou um aumento, segundo os dados de outra pesquisa do governo.
A situação melhorou para alguns afortunados no Japão. Manabu Fujisaki, 34 anos, enriqueceu com investimentos em criptomoedas. Ele recentemente comprou um automóvel da Mercedes-Benz avaliado em 7 milhões de ienes (US$ 61.800).
"A Abenomics trouxe grandes lucros para os investidores, à medida que o pacote de estímulos elevou os preços dos títulos financeiros", de acordo com Fujisaki. No próximo ano, Fujisaki está planejando construir uma casa para a sua família no valor de 200 milhões de ienes (US$ 1.760.000), na região de Tóquio.
As vendas de carros importados de luxo vivem um bom momento no Japão por causa dos novos ricos. Entre abril e setembro deste ano, as vendas da marca de carros italiana Alfa Romeo mais que dobraram em relação aos anos anteriores. De acordo com dados da indústria, outras marcas caras de carros importados, como Ferrari, Jaguar e Maserati, também tiveram aumento nas vendas no mesmo período.
"Estamos presenciando um claro aumento na demanda por produtos de luxo entre os novos ricos", disse Takahiro Koike, gerente da loja de departamentos Isetan.
O novo primeiro-ministro japonês pretende reduzir a disparidade de riqueza, formando um "novo tipo de capitalismo". O plano de Kishida inclui salários mais altos para trabalhadores da saúde pública e incentivos fiscais para empresas que forem aumentar os salários dos funcionários.
Shigeto Nagai, economista da Oxford Economics, disse que oferecer incentivos fiscais de curto prazo provavelmente não convencerá as empresas em aumentar os salários. Ele sugere que o primeiro-ministro japonês faça reformas no rígido sistema de trabalho do Japão.
"Em primeiro lugar, os políticos devem abandonar a premissa irreal e otimista da Abenomics. O Japão não consegue curar todos os males apenas refletindo no crescimento nominal da economia", afirma Nagai.
Fonte: The Asahi Shimbun.
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