A questão da ordem de entrada das delegações olímpicas na cerimônia de abertura.
Tóquio - A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, realizada no último dia 23 de julho, apresentou uma ordem de entrada bastante incomum no desfile das regiões e dos países competidores.
Delegação dos Estados Unidos fazendo a sua apresentação na cerimônia de abertura dos Jogos de Tóquio 2020. Foto: Kyodo.
Como manda a tradição, a primeira delegação a entrar no estádio foi a Grécia, nação fundadora dos Jogos Olímpicos. Já a última delegação a desfilar foi o Japão, o atual país anfitrião dos jogos olímpicos. Mas, as delegações que entraram após a Grécia apresentaram uma ordem completamente diferente, não seguindo a ordem do alfabeto romano que todo mundo conhece. A forma utilizada pelo Comitê Olímpico do Japão para ordenar os países durante o desfile foi através do silabário dos ideogramas japoneses.
A Islândia e a Irlanda têm as iniciais com som de "A" em japonês, portanto foram os primeiros países a entrarem no estádio olímpico. A Austrália tem a inicial com som de "O" em japonês e, por isso, ficou posicionado um pouco mais no meio do desfile, após os países com iniciais "A", "I", "U" e "E".
No caso dos Estados Unidos, há duas palavras na língua japonesa: o país pode ser chamado de "Amerika" ou "Beikoku". Assim, a delegação olímpica norte-americana deveria ter entrado no início ("A" de América) ou na metade para o final do desfile ("Be" de Beikoku). Mas, não foi isso que aconteceu durante a cerimônia. O país foi um dos últimos a entrar no estádio, antes das delegações da França e do Japão. Mas por quê?
Em primeiro lugar, desde as Olimpíadas de Londres em 1908, é tradicional que cada país (e região) entre no estádio liderados por um porta-bandeira. As equipes olímpicas também podem vestir as roupas tradicionais de seus países para mostrar uma parte das suas culturas.
Durante as Olimpíadas de Los Angeles em 1984, os jogos olímpicos começaram a se tornar eventos mais comercializados, apoiados por cobranças de direitos de transmissão televisiva e patrocínios em publicidade. Dessa forma, a exuberância nas cerimônias de abertura olímpica começaram a ganhar mais destaque.
Para as emissoras de televisão, as cerimônias de abertura das Olimpíadas são um dos grandes atrativos dos jogos. O Comitê Olímpico Internacional (COI) afirma que, desde as Olímpiadas de Sydney em 2000, as taxas cobradas por transmissão e as horas das competições exibidas na TV, durante os jogos olímpicos, têm aumentado gradativamente.
A receita de direitos de transmissão dos jogos pela TV e por outros meios de comunicação cresceu em US$ 4,157 bilhões nos últimos quatro anos (de 2013-2016). Já o total de tempo dos jogos transmitidos na televisão atingiu 7.100 horas no mesmo período. Desde as Olimpíadas de Sydney 2000, os números de receita e de horas de transmissão mais que dobraram após quase 16 anos.
Foi prometido que os Jogos de Tóquio teriam uma redução de tempo na transmissão da cerimônia de abertura devido ao adiamento das Olimpíadas em 2020, provocado pela pandemia mundial do coronavírus. Mas o Comitê Olímpico Internacional não permitiu mudanças na cerimônia de abertura. O presidente do COI, Thomas Bach, classificou a cerimônia de abertura como uma vitrine para o país anfitrião, permanecendo sem qualquer alteração. Bach disse que o desfile dos atletas não deve ser alterado, mantendo essa tradição na cerimônia de abertura.
Por trás das declarações de Thomas Bach, há uma grande emissora norte-americana, a NBC Universal Media, que corrobora com o poder de decisão nos jogos. A empresa americana terá pago ao Comitê Olímpico um total de US$ 12,03 bilhões pela transmissão televisiva de 10 jogos olímpicos: iniciada desde as Olimpíadas de Inverno de Sochi em 2014, até as Olimpíadas de Verão de Brisbane em 2032.
Para o desfile das delegações olímpicas na cerimônia de abertura da Tóquio 2020, algumas mudanças foram realizadas. Foi decidido que a delegação dos Estados Unidos seria a antepenúltima a entrar na cerimônia de abertura, devido a escolha do país como sede dos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 2028. A delegação da França seria a penúltima a entrar, pois o país será sede dos Jogos Olímpicos de Paris em 2024. E, por último o anfitrião deste ano, a delegação do Japão.
Embora as mudanças na entrada das delegações fossem apenas para chamar a atenção do público com relação aos países que serão sedes das próximas olimpíadas, o motivo foi outro, aparentemente. Havia uma grande preocupação da audiência pelas emissoras de televisão norte-americanas em seu país. Se, durante o desfile, a delegação americana entrasse muito cedo no estádio olímpico, os telespectadores americanos poderiam desistir em assistir à transmissão dos jogos na íntegra, simplesmente mudando de canal ou, até mesmo, desligando a televisão. Por isso, os canais americanos preocuparam-se em segurar a audiência televisiva até o final da cerimônia de abertura.
Nas Olimpíadas de Tóquio, mais de 80% das instalações olímpicas realizarão as competições sem a presença do público. Isso significa que a importância da transmissão dos jogos olímpicos pela televisão se tornou fundamental para este período de pandemia. De acordo com o COI, a Olympic Broadcasting Services (Serviços de Radiodifusão Olímpica) planejam produzir mais de 9.000 horas de filmagem dos jogos olímpicos, distribuindo os vídeos para as redes internacionais de televisão .
Fonte: The Mainichi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário